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sábado, 13 de agosto de 2011

Assistente X Aprendiz X Profissional

Texto Postado no Blog do Studio Seasons no Deviant Art

Esse é um assunto que sempre vem à tona quando se fala em otimizar o tempo para produção de quadrinhos, mas, como tantas coisas no Brasil, poucos se põem a observar a situação com a real atenção que ela necessita.

No universo da produção de mangás é sabido que muitos autores produzem títulos com a ajuda de assistentes de produção, mas afinal, o que fazem e quem são estas pessoas?

As respostas podem ser muitas, em alguns casos é notória a ajuda de amigos, parentes, e outros são profissionais que se dedicam a essa tarefa como uma profissão, tanto quanto os autores se dedicam as suas obras.

Para podermos entender o universo destas pessoas que trabalharam e trabalham, ainda hoje no mercado japonês, sem ter, na maioria dos casos, um devido reconhecimento, precisamos compreender um aspecto cultural nipônico.

Em primeiro lugar, temos
Confúcio... sim, ele mesmo! O tal filósofo chinês! Entre outras coisas Confúcio pregava que todas as pessoas deveriam ser conscientes de suas tarefas e fazê-las de forma correta. Ou seja, ele pregava o condicionamento social como forma de harmonia. Dessa forma sua doutrina se baseava na criação de uma sociedade capaz e voltada ao bem estar comum. Isso lembra o Japão? ^___^

Isso é tão forte na cultura japonesa que se tornou um aspecto social agregado ao ritmo de trabalho deles. Culturalmente, o japonês não apenas tem uma consciência muito forte de sua responsabilidade numa tarefa, como também tem um enorme senso de grupo e obediência. No mercado de mangás isso não é exceção e os assistentes estão aí para comprovar isso.

Mas o que um assistente faz, afinal?

Um assistente é praticamente um “faz tudo” em alguns casos. Ele pode desde apagar o lápis de um desenho, cumprindo uma função de
cleaner como também pode ser o cara que encomenda o almoço para o grupo. Mas o mais importante: o assistente é quem faz o trabalho de apoio e já conhece a atividade.

Ele não é um aprendiz. No Japão, o assistente contratado já sabe desenhar, passar tinta, colocar retícula... qualquer uma dessas funções que ele tenha sido contratado para fazer. Ele é um profissional de apoio, não um aprendiz que vai entrar para aprender a desenhar, a fazer tinta, a descobrir macetes ou a chegar na hora certa. Ele já sabe fazer isso.
Seu trabalho de adaptação consiste em assimilar o estilo do artista e adaptar-se ao ritmo daquele projeto, o resto ele já tem de vir sabendo.

No Japão, o objetivo de se tornar um assistente está ligado à doutrina confucionista de começar por baixo para aprender o ritmo de um profissional, um “mestre”, para depois tentar ser um profissional com sua própria obra, um dia.

Mas existem outros tipos de profissionais no Japão: aqueles que optam por se tornarem assistentes como sua profissão fixa. Seu trabalho será sempre o de apoio. Muitos optam por isso por não terem perfil para se tornarem mangakás de destaque, embora tenham habilidades manuais, e outros por uma opção de preferir trabalhar como parte de um grupo.

Aqui se difunde a ideia de que o assistente vai aprender com o artista para depois ajudar e não é assim que funciona. Ele já tem de conhecer programas, desenhar ou qualquer outra coisa que seja necessário. Se o assistente vem cru, ele não é assistente, é um aprendiz e não tem função para um artista que já está lotado de trabalho, pois este vai perder mais tempo ainda para lhe ensinar algo.

Se alguém pensa em se tornar assistente, deve entender que isto é um emprego, não um curso ou estágio. Nesse emprego só há tempo para pegar o ritmo do trabalho, e não para aprender do zero. Por isso, a pessoa que deseja fazer isso tem de ter duas coisas em mente: já tem de saber executar as atividades para o qual será contratada e tem de aprender a seguir ordens.

É possível ser um profissional sendo um assistente, e por incrível que pareça isso é tão difícil como ser um mangaká, pois as duas posições exigem as mesmas coisas:
disciplina e respeito.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Vivendo e Aprendendo

Não tem desenhos hoje, mas tenho um texto interessante que colhi no blog da Julia Cabral. Recebi o link pela lista da ABIRPO, da qual sou afiliado.

Esse texto fala da realidade de muitos dos artistas. Vários já passaram por situações semelhantes e, aqueles que acordaram para a realidade, lutam para não precisarem mais viver situações assim, e para que pessoas incautas não precisem passar por isso, não cedam à tentação do EGO e às NECESSIDADES.

Pagar as contas e ter reconhecimento é algo que todos nós queremos, e precisamos. Mas o custo não deve ser nosso valor-próprio. Não precisamos cobrar altos preços nem ficarmos ricaços famosos, apenas dar o valor devido ao nosso trabalho. Como consequência, TODO o resto do mundo vai fazer o mesmo, mas eles precisam de um parâmetro, pois apenas nós sabemos o quanto valem nossos traços e cores.

Vivendo e aprendendo

Adaptado livremente do texto original por Wen-M

Cada vez aparecem mais oportunidades em listas de discussão procurando “artistas” para qualquer coisa. Dos serviços gráficos aos quadrinhos ou publicidade. Mais pessoas estão se vendo na necessidade de contratar o serviço de um ilustrador. Mas o que não estão fazendo, infelizmente, é imaginar quão raro alguém com estes talentos particulares pode ser.

Quantas pessoas você conhece, pessoalmente, com o talento e a habilidade para executar os serviços você necessita? Uma dúzia? Meia dúzia? Uma pessoa? Nenhuma? Mais do que provavelmente, você não conhece nenhuma. Se não, não existiriam as vagas nas listas de discussão e sites afins. Mas esta não é realmente uma surpresa. Nos Estados Unidos, por exemplo, para cada ilustrador profissional há dois neuro-cirurgiões. Há onze vezes mais mecânicos certificados do que ilustradores. Há setenta vezes mais trabalhadores em tecnologia da informação do que, adivinhe... ilustradores.

Assim, visto que esses são profissionais raros, e conseqüentemente em menor quantidade no mercado, faria sentido pedir que um mecânico conserte seu carro de graça? Você conseguiria, por exemplo, ir até uma concessionária e "comprar" o último modelo disponível, zero quilômetro, argumentando que o seu pagamento seria a possibilidade de "divulgação" porque você dirige o veículo por aí? Você ofereceria a um neuro-cirurgião a “oportunidade” de adicionar seu nome a seu "portfólio" como o pagamento para remover um tumor no seu cérebro? Talvez você pudesse oferecer “uns trocados” pelos “materiais” utilizados. Que pechincha! Mas felizmente, as coisas funcionam de uma maneira muito diferente disso e nenhuma dessas alternativas seriam consideradas plausíveis por pessoas sensatas.

Ilustradores são profissionais que estudaram, treinaram e trabalharam por anos pra aprimorar suas técnicas, assim como os médicos, engenheiros e advogados. Assim, considerando-os dessa forma, lidando com eles desta maneira, qualquer tratamento que se dê sem o total respeito e reconhecimento do seu trabalho é, além de um insulto, uma irracionalidade. O ilustrador segue regras, como nas profissões previamente citadas. São regras comerciais, financeiras, administrativas, contábeis, legais, éticas e até mesmo pessoais. É um negociador do melhor produto que ele pode dispor: seu próprio talento.

Coisas que todos deveriam saber:

- Não é uma "grande oportunidade" para um profissional ter seu trabalho visto em sua revista (ou website, parede do escritório, etc). É uma "grande oportunidade" pra quem contrata ter esses trabalhos lá.

- Não é inteligente procurar um "estudante" ou "iniciante" para obter mão-de-obra barata ou até mesmo gratuita. É insultante. Não para o profissional, mas para o próprio aprendiz. Eles podem estar "aprendendo", mas não significa dizer que não devem ser pagos pelo seu trabalho. Todos foram "aprendizes" algum dia. Até mesmo você.

- A chance de ter seu nome em algo que vai ser visto por outras pessoas, não importa em quantos lugares nem quantas vezes, não é um incentivo válido. Muito menos "agregar valor ao portfólio". Profissionais fazem isso todo o tempo, todos os dias, logo após serem pagos por seu trabalho. Não é uma recompensa. É o seu direito.

- Não pense que está dando ao profissional a "grande chance de trabalho". Assim que ele olhar um pouco melhor a sua proposta, vai aceitar a de alguém que valoriza seu próprio negócio ou produto e conhece a importância de bem remunerar quem cuida da sua imagem.
- É fato que há mais trabalhos precisando de profissionais talentosos do que pessoas que possuem tais habilidades.

- Aprendizes precisam, certamente, de experiência. Mas não precisam, em absoluto, literalmente doar os seus trabalhos. Na verdade, não sendo devidamente remunerados, eles não estão aprendendo uma parte da profissão essencialmente necessária. Se experiência e domínio são exigidos, deve-se estar preparado pra pagar pelos serviços que serão recebidos. A única lição que se aprende trabalhando de graça é: “Nunca trabalhe de graça”.

- Última, mas não menos importante: Alguns clientes poderão solicitar "trabalhos para consideração". Algumas vezes parecendo "concursos". Na grande maioria dos casos, não passam de aproveitadores à procura de profissionais que submetam seus trabalhos a fim de "vencer" o "concurso" ou "serem escolhidos" para algum serviço. Muitas vezes, além dos concursos não pagarem, ou não pagarem o suficiente, se apropriam livremente dos direitos autorais da obra, ou ainda encontram alguém para "trabalhar", alguém "incrivelmente barato" porque não tem talento ou originalidade no que faz, reproduzindo sempre as mesmas coisas, os mesmos trabalhos, ou até mesmo fazendo algumas pequenas modificações nos trabalhos de outros para entitulá-los como trabalho original. Ninguém será pago. Ninguém "vence o concurso". As únicas pessoas que ganham são as que, inescrupulosamente, fazem esses anúncios. Nos Estados Unidos chama-se "Spec-Work" (de especulação). No mínimo uma grande perda de tempo, e no máximo uma grande dor de cabeça.

Evitem pessoas que não têm a intenção de pagar por trabalho. Não importa se uma "grande empresa" ou apenas um conhecido que precisa de um "rabisco" na parede do quarto. Eles precisam de você. Diga não à arte gratuita. Valorize sua profissão e seu longo processo de aprendizado.

Para aqueles que procuram alguém para trabalhar de graça: Acorde e junte-se ao mundo real. Não prejudique a si mesmo e aos seus companheiros de profissão.

E mais algumas considerações sobre o texto feitas pela Fernanda Chiella, respondendo a comentários, as quais eu concordo (fiz algumas adaptações tirando algumas palavras “impróprias”, hehe).

“Todo mundo precisa de trabalho, mas o que eu quis dizer foi referente a quem não quer pagar mesmo. O lance é que ilustração mexe muito, bem dizer DEMAIS com o ego. Daí o que acontece é que o 'contratante' (ou só 'tratante' no caso) infla tanto o seu ego com 'ah, mas você vai aparecer na capa' ou 'ah, mas todo mundo vai ver seu trabalho... eu já disse que amo o teu estilo?' ... que você acaba esquecendo que foi ele que veio até você primeiro! E que sem a sua arte, a capa seria uma folha branca com textos de chamada, a camiseta não teria estampa, o jogo não teria gráficos, etc. Enfim, tem gente que aceita trabalhar de graça... por ego!”

“Elogio é bom e todo mundo gosta, mas ficar acostumado e acomodado nunca é bom. Mesmo sempre sabendo que vou ser uma eterna aprendiz, eu mesma já fiquei bem prostituta da face quando vieram me criticar nas primeiras vezes, mas agora já estou mais relax (espero).”

“Quando ninguém quer pagar pelos trabalhos porque acham muito caro, alguns clientes dizem aquela frase clássica "Ah! Meu sobrinho pode fazer de graça ele gosta de desenhar também". Pra esse tipo de frase eu tenho uma resposta bem legal. Peça pro seu sobrinho fazer então. Eu poderia mencionar que o seu sobrinho "provavelmente" não passa horas sentado numa cadeira estudando e praticando religiosamente desenho, que ele só desenha 'por diversão' 'quando quer', que ele não tem a mínima preocupação com prazos, contratos e demais burocracias, nunca ouviu falar em direito autoral, e é bem provável que o motivo dele cobrar tão barato seja porque ele mora com os pais e não precisa pagar as contas nem as próprias cuecas também. Por isso que pra ele o custo do desenho é 'de graça' e ele pode cobrar pouco. Se não por alguma dessas razões, por todas. Mas quem sou eu pra falar... quando o serviço final ficar a porcaria que "provavelmente" vai ficar, não venha reclamar pra mim.”