Mais uma imagem do projeto em que estou trabalhando. Outra Pin Up de outra personagem.
Neste caso, o processo foi completamente digital. O esboço, a arte final e o sombreado com as retículas foram feitos no Manga Studio. Lembrando que para utilizar o programa de maneira apropriada, é necessário ter uma mesa digitalizadora (tablet), de preferência da Wacom (eu digo que não existe outra além da Wacom...).
Este software emula o processo de trabalho tradicional da produção de um mangá. Todas as ferramentas são réplicas digitais dos materiais usados pelos mangakás (desenhistas de mangá) do Japão nos últimos 50 anos, do lápis e da lapiseira 0,5 às folhas de retícula adesivas, com as quais foram desenvolvidas técnicas que reproduzem cenários de maneira muito realista.
Para o esboço, usei a boa e velha lapiseira (mechanical pencil) 0,5. É possível alterar o diâmetro do traço, e ele reproduz uma textura muito semelhante ao do grafite no papel.
Assim como no Photoshop, o MS trabalha com camadas. A camada do esboço pode ser mostrada em outra cor, no caso o azul. Isso facilita muito pois posso rabiscar bastante. Depois, em outra camada, passo para a próxima etapa: a arte final.
Os materiais de arte final emulam muito bem os de verdade. Temos uma varidade de penas que imitam a variação de espessura do traço que temos com a pena de verdade.
Os nomes, e as características, são muito próximos dos reais, como a pen G, Maru, escolar (conhecida aqui como mosquito) e o pincel (brush). Todas tem parâmetros que podem ser alteradas, fazendo com que o artista possa deixar os materiais do jeito que mais lhe agrada.
Muitos artistas gostam de fazer arte-final digital no Photoshop. Eu mesmo já fiz em programas vetoriais como o Flash, ou mesmo Illustrator. Contudo, as ferramentas do Manga Studio conseguem me impressionar com o resultado. O traço realmente parece ter sido feito nos meios tradicionais.
Outra coisa que facilita muito a nossa vida são as ferramentas de seleção e o balde de tinta. Para cobrir uma área grande de preto, que levaria ou o nanquim não fosse de qualidade, pode ser executado em questão de segundos no programa. E a cobertura fica 100% preta. Perfeita.
Por fim, a maior dificuldade de artistas que se inspiram e tentam seguir o estilo dos mangás fora do Japão, é a utilização das retículas.
Para quem não sabe, elas são originalmente padrões de pontos de várias densidades que reproduzem tons de cinza, impressos em folhas adesivas. Essas folhas são coladas sobre os originais e cortadas nos formatos desejados. Foram desenvolvidas técnicas de raspagem e sobreposição que conseguem reproduzir texturas, sombras e cenários com realismo impressionante. Fora as folhas que vem com padrões de estampa e mesmo cenários PRONTOS (o cúmulo da samangagem!!!).
Lá no Japão, as folhas são um material caro, usado com sabedoria e muito ciúme (dizem q os artistas não dividem as suas retículas com ninguém). Aqui no Brasil, elas foram largamente usadas e fabricadas, mas a Letraset deixou de produzi-las a muito tempo, principalmente depois do advento da informática. Logo, conseguir este material fora do Japão é muito difícil, ainda mais aqui.
Muitos métodos digitais usando Photoshop, Illustrator, etc, foram tentados. Até criaram um plug in do PS para produzi-las, mas os resultados não pareciam satisfazer. Como o Manga Studio tem a proposta de imitar os materiais reais, ele vem carregado de retículas fieis às originais (inclusive as de cenário) e com as ferramentas usadas para fazer efeitos nelas.
Assim como as folhas de retículas verdadeiras, aplicamos uma camada exclusíva de retícula sobre o original. Pode se controlar tanto a linhatura (LPI) quanto a densidade, que vai determinar qual a intensidade do tom de cinza. Também pode-se controlar o ângulo entre os pontos, o que proporciona efeitos interessantes na sobreposição.
Quando se desenha sobre a camada das retículas, o resultado é um traço de retículas no padrão determinado. Pode-se também apaga-las para dar os efeitos de raspagem. Algo semelhante pode ser conseguido usando uma máscara no Photoshop.
A principio parece difícil, mas depois que se aprende a pensar como o programa e entende-se como ele opera, o trabalho fica mais fluente. O importante é lembrar que ele faz o que se faria num original de verdade. Tudo bem que não teremos uma prancha original bonita, mas evitamos o desmatamento...
E temos do CRTL+Z!!!!!